quinta-feira, 25 de abril de 2013

Vivendo à vista - Por Mauro Calil


Costumo dizer que a sociedade brasileira vive um grande mal atualmente, o famoso ‘quanto cabe no bolso’. Enquanto as parcelas do financiamento do carro, adquiridos em 60 parcelas iguais, da compra de roupa, divididos em três vezes no cartão de crédito, estiverem dentro da programação mensal de gastos, o indivíduo vai continuar comprando em suaves parcelas. Ele só para quando essas suaves parcelas, de tudo o que foi comprado, compromete o pagamento das contas – e alguns, ainda assim, continuam comprando indiscriminadamente.

Comprar à vista além de ser mais vantajoso significa não pagar juros mais altos embutidos nas parcelas dos produtos ou serviços. Quando compramos a prazo não percebemos que estamos adquirindo também os juros ruins. Pode parecer estranho esse termo, mas juros ruins são aqueles que não geram nenhum tipo de renda para nós e que estão presentes em dívidas.

Assim como os juros ruins, existem também os juros bons, que recebemos (ao contrário dos ruins, que pagamos) como resultados de nossas aplicações financeiras e que nos geram receita.

Quando compramos a prazo, se somarmos o total de juros embutidos nas parcelas, no final da dívida poderíamos ter comprado dois produtos, ao invés de somente um.

Um dos grandes vilões do orçamento e grande gerador de parcelas é o cartão de crédito. Não estou afirmando que ele deve ser abolido das nossas inúmeras formas de pagamento existentes. Mas a ilusão de compra a longo prazo  esconde juros altos,  que comprometem seriamente o orçamento.
 
Quando surgir a vontade de comprar algo a prazo, é sempre bom lembrar algumas perguntas. Primeiro, preciso realmente deste bem, segundo, tenho necessidade deste produto neste momento, e a mais importante de todas as perguntas, qual é minha capacidade de pagamento, ou seja, vou conseguir honrar o compromisso de pagamento, sem comprometer minhas necessidades básicas.

Como educador financeiro, gostaria de fazer uma proposta para estes compradores ‘de parcelas e juros’: viver durante um ano à vista. Ou seja, não comprar nada a prazo, somente à vista.

O meu raciocínio para esta proposta é a seguinte: se a pessoa consegue fazer um planejamento financeiro para se endividar, para saber quantas parcelas cabem no seu orçamento, ele também consegue fazer o mesmo para não se endividar, para saber o quanto ele pode gastar durante o mês sem fazer dívida.

E se isso é possível, passa a ser viável também incluir nesse planejamento um percentual mensal para investimentos, com objetivos definidos, como a formação de uma poupança para o pagamento à vista de uma viagem, para pagar à vista um curso ou até mesmo para a aposentadoria.

Está lançado o desafio!

Mauro Calil
Palestrante, educador financeiro, fundador da Academia do Dinheiro, e autor dos livros “Separe uma verba para ser feliz” e “A receita do bolo”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário