quinta-feira, 18 de junho de 2015

A estatização do consumo – a grande ameça econômica* - Por Mauro Calil










A sociedade civil brasileira não cansa de alardear que o Brasil tem a carga tributária mais pesada entre os países emergentes e mais alta até que Japão e Estados Unidos. Só fica atrás para o bem estar social europeu, onde o imposto é alto, mas a contrapartida do governo, altíssima. Além de pesada, a tributação no Brasil é também complexa e injusta: ao mirar o consumo, penaliza as faixas de menor renda.

Hoje a carga tributária representa cerca de 35% do PIB, mas nem sempre foi assim. Em 1947, quando teve início o registro sistemático das contas nacionais do Brasil, a carga tributária brasileira era de 13,8% do PIB (IPEA – Texto para discussão 583, Uma análise da carga tributária no Brasil, Rio de Janeiro,1998).

Não quero eu repetir o que todos sabem, que o estado é pesado, ineficiente, incapaz de prover serviços como educação, saúde e segurança, os quais temos que pagar em dobro, pelo público nos impostos e pelo privado que é o que de fato iremos usar e, sobre eles, pagar mais impostos. Quero aqui salientar que os consumidores que, também são cidadãos e eleitores, estão sendo preteridos de sua responsabilidade de consumir e fazer a economia girar.

Sim, mais que um direito esta é uma responsabilidade da sociedade: Consumir.

A relação é direta países pobres têm cidadãos que consomem pouco er governos que consomem muito. Baixa renda ou uma renda altamente comprometida com impostos impedem que o consumo cresça e, nosso governo sabe disto. Tanto é assim que ao surgir a necessidade de manter a economia ativa, baixou-se impostos nos automóveis e eletrodomésticos. Tais medidas fizeram muitos brasileiros tomar empréstimos para comprar estes bens e, como consequência, manter o emprego de outros tantos.

Ao contrário do que se pode pensar, a diminuição dos impostos em nada reduziu a carga tributária sobre o PIB que se mantém em torno de 1/3 por longos anos. Isso ocorre pois o cidadão consome, gera empregos e oportunidades de empreendedorismo e, por consequência, gera arrecadação de impostos sobre tudo isto.

Reduzir impostos é enxergar longe. O contrário é estatizar o consumo e sobrecarregar o estado não só na folha de pagamentos e gastos ineficientes mas, também com a responsabilidade de fazer a economia girar. Isso torna o estado dependente de si mesmo e elimina a independência de seus cidadãos que sempre demandarão mais serviços públicos que necessitarão de mais impostos para se sustentar.

Com este ciclo vicioso estabelecido, só poderá ser quebrado de duas formas. Ou com uma reforma fiscal profunda, algo difícil de ocorrer em qualquer país do mundo, ou com a quebra da economia pela falta de pessoas que produzem e pagam impostos.

*O professor Mauro Calil é  especialista em investimentos no Banco Ourinvest. É também palestrante e autor dos livros “Receita do bolo” e “Separe uma verba para ser feliz” e proprietário da Academia do Dinheiro, instituição especializada em cursos de educação financeira e finanças.  Possui mestrado pela USP e Pós Graduação em Marketing pela ESPM e certificado pela ANBIMA
como CEA.


Ser ou ter eis a questão? Por Rogério Nakata




Segundo um relatório emitido pela instituição financeira Bank of America Merril Lynch o mercado da “vaidade” não para de crescer no mundo. Os gastos com produtos e serviços destinados a melhorar a autoestima, aparência e popularidade dos consumidores ultrapassa os US$4,5 trilhões de dólares. Isso é maior que PIB da Alemanha que é atualmente a quarta maior economia do mundo. Um mercado que cresce em média 20% ao ano e que tem projeção de expandir mais 37% nos próximos dois anos. A pesquisa abrange além de gastos com cosméticos sendo que, somente o ano passado o Brasil teve um crescimento de 11% com um faturamento de R$101,7 bilhões segundo a Associação Brasileira de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC), soma-se também o mercado de alto luxo que inclui os carros mais cobiçados do planeta (US$ 351 bilhões), hospedagens em hotéis de alto padrão (US$ 150 bilhões), imóveis de luxo e mansões (US$ 150 bilhões), jatos particulares (US$ 19 bilhões), cruzeiros e iates (US$ 8 bilhões).

Com o advento das redes sociais o mercado da vaidade somente adicionou um combustível extra já que as pessoas já não querem mais ser e sim ter, as vezes a qualquer custo, para que possam aparecer, compartilhar criando o que conhecemos como status pelatus: “ que é comprar coisas que não precisa com o dinheiro que não tem para, em muitos casos, apenas impressionar as pessoas que não gosta”, ou seja, estamos cada vez mais consumistas e alguns até compulsivos como aqueles que trocam de aparelho celular a cada seis meses. Não é à toa que o Brasil é um dos países com uma das mais baixas taxas de poupança do mundo que significa que apenas 14% da renda nacional deixa de ser consumida pelas famílias e pelo governo enquanto que na China essa poupança chega a mais de 42%. Sem contar também, que aquela história que enquanto um brasileiro dorme existe outros três chineses estudando é a mais pura verdade segundo um amigo que fez um MBA por lá e que me relatou que há uma grande possibilidade de se trancar uma biblioteca pública após o expediente e ainda assim encontrar estudantes escondidos e fervorosos em quererem continuar por lá, talvez para ainda aumentar não somente seu capital intelectual atual mas também seu capital financeiro futuro já que se prepararam melhor, conseguindo melhores remunerações e por isso se espalham pelo mundo buscando ou levando conhecimento em setores como engenharia, construção civil, tecnologia da informação, medicina, etc., etc., formando inclusive milhares de novos cientistas a cada ano.

Tudo isso para dizer que enquanto muitos procuram ter e aparecer com o objetivo de serem curtidos até por irem no banheiro existem outros que estão dispostos a serem e de fazerem a diferença em suas vidas e para a sociedade. São aquelas que entendem que para cada escolha existe uma renúncia e que, apesar de ser difícil para nós latinos separarmos o lado emocional do racional, principalmente quando o assunto é dinheiro, o Planejamento Financeiro é tão importante quanto o ar que respiramos. Portanto, viver somente o vaidoso presente e não pensar no futuro pode enquadrá-lo, se já não o enquadrou, nas estatísticas que mostram um aumento de mais 56 milhões de negativados até Maio sendo muitos deles, com certeza, motivados por um dos sete pecados capitais que é a vaidade e pela compulsividade.

Para resumir esse artigo encontrei uma frase do glorioso desenhista e escritor Millôr Fernandes que expressa perfeitamente esse aspecto compulsivo do ser humano:


“O homem é um animal que adora tanto as novidades que se o rádio fosse inventado depois da televisão haveria uma correria a esse maravilhoso aparelho completamente sem imagem”

Rogério Nakata é Planejador Financeiro Certificado pelo IBCF - Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros, Embaixador CFP® para o Vale do Paraíba, Agente Autônomo de Investimentos pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e Palestrante sobre os temas Educação Financeira e Planejamento Financeiro de grandes organizações (www.economiacomportamental.com.br)

A explicação matemática para aumento da inadimplência - Por Mauro Calil



Há algum tempo reencontrei um amigo de infância. Um daqueles com quem jogava bola, ia a shows na adolescência, dormíamos um na casa do outro de vez em quando, nos metíamos nas mais diversas e inocentes encrencas e, também, saíamos juntos delas, enfim amigão mesmo.

Ele me viu na TV, buscou meu nome na internet e me ligou convidando-me a ir visitá-lo em sua casa recém construída. De pronto aceitei o convite.

Obviamente fui muito bem recebido por um casal super orgulhoso de suas conquistas materiais, seu contentamento somente era menor que a felicidade de terem gerado dois filhos. Mostraram cada cômodo da casa, a área de churrasqueira, piscina, lareira, a cozinha com eletrodomésticos novinhos e todas as quatro TVs de tela plana, uma para cada pessoa dentro da casa nova.

Enquanto as crianças brincavam e nossas mulheres se conheciam (àquela época eu era casado), meu amigo fazia o churrasco e relembrávamos as mesmas histórias e piadas de 30 anos atrás (ou mais). Conversa vem, conversa vai perguntei a ele por que ainda não havia colocado vidros nas janelas? Afinal bastava abrir as venezianas para que o vento soprasse muito. Com venezianas fechadas soprava menos.

A resposta foi simples: “Tá louco Mauro? Você viu a quantidade de vidros que tenho que colocar nesta casa? O vidraceiro divide em no máximo três vezes. Assim que terminar de pagar algumas contas, vou juntar para isso.”

Ah OK. Pensei e respondi eu. Afinal trata-se de meu amigo e do dinheiro dele. Mas a atitude dele me fez pensar novamente em prioridades e premissas. Meu raciocínio é simples, para quem possui 4 TVs super modernas, para quem tem uma piscina para manter, acredito que possa comprar vidros para as janelas, afinal seriam mais importantes. Ao menos para mim seriam.

As conquistas daquela família, e de muitas outras, foram galgadas no crediário. Na recém formada cultura financeira do brasileiro encapsulada na frase “cabe no bolso”. Tal cultura é galgada em premissas temporais e por vezes etéreas como, ter um bom emprego e empregabilidade, ou se for mandado embora conseguir uma recolocação rápida. Ou ainda, o Brasil está crescendo e a inflação sobre controle. O fato é que tudo isso está passando, está se deteriorando, e as dívidas dos indivíduos e famílias continuarão.
Já quis estar errado sobre isto mas os números crescentes da inadimplência no Brasil mostram que isto está correto. A inflação em seu voo suave, pressiona orçamentos onde a prestação de quatro televisores que seria plenamente aceitável, não mais será em pouco tempo. Vejamos em números.

Imagine uma família com Receita Familiar total líquida de R$5.000,00, despesas com parcelas de tudo que é pago via financiamento: R$1.750,00 (35%), demais despesas da família R$3.000,00. Portanto sobram R$250,00.

Mesmo que todo o financiamento seja feito em parcelas fixas, as demais despesas como água, luz, telefone, alimentação, escolas, transporte, etc. sofrerão a ação da inflação, que ao alcançar 10%, transformarão os gastos de R$3.000,00 em R$3.300,00, portanto fazendo faltar R$50,00 no orçamento desta família.

Para todos que deram vazão aos seus sonhos de consumo usando o caminho do crédito, incluindo meu amado amigo que permitiu usar seu exemplo neste artigo, sugiro que verifiquem a duração de suas prestações. Tomara que terminem antes da inflação alcançar de forma devastadora as demais despesas e o orçamento familiar.
Rever seu orçamento e investir melhor, com mais rentabilidade mas, a mesma segurança dos grandes bancos, são atitudes que podem eliminar o aperto de qualquer orçamento.


*O professor Mauro Calil é  especialista em investimentos no Banco Ourinvest. É também  palestrante e autor dos livros “Receita do bolo” e “Separe uma verba para ser feliz” e proprietário da Academia do Dinheiro, instituição especializada em cursos de educação financeira e finanças.  Possui mestrado pela USP e Pós Graduação em Marketing pela ESPM e certificado pela ANBIMA como CEA.