quarta-feira, 29 de abril de 2015

Não confunda poupança com caderneta de poupança* - Por Mauro Calil




Com rendimentos pequenos e fixos de 6,17% ao ano mais TR, a caderneta de poupança é um o segundo pior investimento disponível no Brasil, só ganha do rendimento do FGTS com seus terríveis 3% ao ano mais TR.
Por este, e por outros posts, você já deve ter percebido que sou um grande propagador do mantra “saia da caderneta de poupança e invista melhor”.
Nem todos têm consciência de que a caderneta mal cobre a inflação, e mesmo tendo os investidores resistem em sair dela. Os motivos são sempre os mesmos, segurança e liquidez para o colchão financeiro.
Bem a segurança que todos avaliam é dada pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), uma instituição privada, e não pelo governo como a maior parte das pessoas acredita. O mesmo FGC garante, dentro das mesmas condições, o dinheiro depositado em sua conta corrente, suas aplicações em CDB, LCI, LCA e outras mais. Todas muito mais rentáveis que a caderneta.
A liquidez, ou capacidade de transformar seu depósito (ativo) em dinheiro, é imediata. Isso seduz muitas pessoas que usam suas contas poupança como conta corrente, perdendo, em muitos casos a “data de aniversário”, que nada mais é que o dia do mês onde os rendimentos são de fato entregues ao caderneteiro.
Isto posto, quero distinguir o poupador do caderneteiro, termo que acabo de inventar, se for copiar por favor não deixe de citar meu nome.
Veja que todo caderneteiro é um poupador mas nem todo poupador é caderneteiro. O caderneteiro é muito limitado, enquanto que os poupadores espertos turbinam seus investimentos, têm um mínimo de administração e de seu caixa e, planejamento financeiro ao menos anual. Portanto raramente usarão a caderneta como instrumento de poupança.
Os poupadores turbinados fazem muito mais com o mesmo dinheiro, usando, inclusive fundos de investimento com rentabilidade já líquida de taxas de administração superiores a 100% do CDI, portanto, ganhando do rendimento da caderneta em qualquer situação, tendo a mesma segurança e liquidez também diária, sem precisar esperar datas de aniversário.
Portanto, quando na roda de amigos ou familiares, alguém te disser que é uma pessoa consciente que poupa todo mês, pergunte com cuidado: Na caderneta de poupança?

*O professor Mauro Calil é  especialista em investimentos no Banco Ourinvest.
É também  palestrante e autor dos livros “Receita do bolo” e “Separe uma verba para ser feliz” e proprietário da Academia do Dinheiro, instituição especializada em cursos de educação financeira e finanças.  Possui mestrado pela USP e Pós Graduação em Marketing pela ESPM e certificado pela ANBIMA como CEA.

terça-feira, 14 de abril de 2015

Alta gastronomia nos investimentos* - Por Mauro Calil











A vida corrida nos impõe diversos compromissos, nos leva a deixar algumas coisas sempre para depois. Por comodidade deixamos nosso dinheiro no banco em que a empresa nos paga, aplicamos no que o gerente deseja ou no que o sistema automático do banco aplica, etc.

Poucos fazem a gestão ativa do seu patrimônio, não se interessam por investimentos e sequer sabem o quanto pagam de tarifas ao banco. Aliado a isso, e a despeito das propagandas, os gerentes dos bancos de varejo raramente dispõem de tempo para um atendimento personalizado, afinal suas carteiras são gigantes e, estão ocupados demais com seus afazeres e problemas rotineiros.

O que nos mantêm nestes bancos? Mais uma vez a comodidade. Isso é péssimo pois inverte a razão comercial. A instituição passa a não precisar do cliente mas sim o cliente é quem passa a necessitar do banco.

Ocorre que em outros bancos você pode ter um atendimento realmente diferente com consultoria sobre investimentos, sem pagar taxas. Faço uma analogia com o mundo gastronômico. Onde o almoço é melhor? No restaurante por quilo ou no bistrô? As instituições menores além de remunerar melhor os investimentos, na maioria das vezes oferecem um melhor atendimento porque seus funcionários não necessitam saber se o cheque compensou ou não, se o cliente vai sacar ou não, se vendeu capitalização ou não, ou seja, sua preocupação é com a qualidade da matéria-prima e dos processos que resultam em uma oferta melhor ao cliente final.

Mas ao contrário do atendimento vip dos bistrôs que custam caro, a alta gastronomia financeira costuma não ter custo adicional de taxas de manutenção de conta, cadastro, etc. A alta rentabilidade dos investimentos destinados a poucos paga tudo.

No mundo financeiro quase nunca o mais caro é o melhor!

Resta aqui a percepção da segurança. Na verdade surge a heurística da representatividade, como designado pela ciência das finanças comportamentais. É o julgamento por estereótipos ou por modelos mentais de aproximação. Os tomadores de decisão avaliam a probabilidade de ocorrência de um evento através da similaridade com acontecimentos passados.

Trocando em miúdos, o investidor sempre ficará psicologicamente refém de seu gerente do grande banco, pois este dirá: Você sairá DEEESTE banco super sólido? …. E diz isto como se fosse inquebrável. Pois saiba que não é. Saiba ainda que diversificar seus investimentos em outras instituições, não só melhora sua rentabilidade como, dilui seu risco. Se você investe em Renda Fixa ainda terá sua garantia do FGC multiplicada ao migrar recursos para instituições diversas.

Ninguém melhor do que você pode dar melhor valor para o seu dinheiro, portanto cuide dele, se não está tendo um bom retorno no banco atual, mude de banco, se não consegue atendimento da forma como entende ser boa para você procure outra instituição, às vezes, mudar não faz mal para ninguém, você não precisa fechar as portas na instituição antiga, mas pode tentar conseguir uma rentabilidade muito melhor com a mesma ou maior segurança atual.


“Para quem sabe ler, pingo é letra.” – Ditado popular
Incomode-se com sua comodidade – Frase minha.


*O professor Mauro Calil é  especialista em investimentos no Banco Ourinvest.
É também  palestrante e autor dos livros “Receita do bolo” e “Separe uma verba para ser feliz” e proprietário da Academia do Dinheiro, instituição especializada em cursos de educação financeira e finanças.  Possui mestrado pela USP e Pós Graduação em Marketing pela ESPM e certificado pela ANBIMA como CEA.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Efeito halo – mentes aprisionadas pelo marketing empobrecem contas bancárias - Por Mauro Calil*











Você já ouviu falar em “efeito halo”? Normalmente o efeito halo é considerado o mais sério e o mais difundido de todos os erros de avaliação sobre indivíduos e instituições.
Em poucas palavras: é a possibilidade de avaliarmos indivíduo ou instituição sob um algum viés, e isto, interferir no julgamento sobre outros importantes fatores, contaminando o resultado geral. Por exemplo, nos processos de avaliação de desempenho o efeito halo é a interferência causada devido à simpatia ou antipatia que o avaliador tem pela pessoa que está sendo avaliada.

Edward Lee Thorndike, psicólogo americano que esteve na origem do surgimento do condicionamento operante, descobriu que um ser vivo em resposta a uma consequência agradável tende a repetir o comportamento e faz exatamente o contrário quando recebe uma consequência desagradável. A partir daí, descreveu o que designou por “efeito de halo”, ou seja, criada uma primeira impressão global sobre uma pessoa, temos a tendência para captar as características que vão confirmar essa mesma impressão. A primeira impressão vai afetar as nossas avaliações em relação à pessoa observada. Como exemplo, se inicialmente avaliarmos alguém como “honesto”, temos a tendência de lhe associar características positivas, tais como leal, sociável ou simpático.

Só para constar o inverso de halo é o efeito horn (respectivamente auréola e chifres em inglês), que se referem ao julgamento positivo e negativo. Sempre julgando o todo pela parte. algo interessante é reparar que a maior parte dos jogadores de futebol eleitos como melhores do ano, são atacantes, afinal são eles que marcam gols, que nos dão a alegria deste esporte. Raramente nos importamos se o goleiro fez inúmeras defesas “impossíveis” em um campeonato mas sim, contabilizamos a artilharia.

Agora, transporte isso para o consumo e investimentos. É muito comum julgarmos uma grande cadeia de fast-food como boa ou ruim, saudável ou nociva tendo pouca ou nenhuma informação nutricional sobre os seus alimentos servidos. Da mesma forma julga-se o automóvel, a roupa, o restaurante, etc. Não trocar de marca, de restaurante ou até mesmo do prato pedido em um restaurante pode ser resultado do efeito halo ou horn.
Estes efeitos ficam ainda mais claros na escolha por investimentos e instituições financeiras. Muitas vezes ouvi pessoas “esclarecidas” dizerem que investiam seu dinheiro no banco X, pois este tinha uma agência em sua cidade, portanto seria fácil resolver qualquer problema sério como a quebra da instituição. Efeito halo, afinal seria ingenuidade pensar que uma filial perto ou longe da matriz ou correntista, teria ingerência sobre um problema desta ordem.

Os investidores enfrentam no dia-a-dia relevantes consequências dos efeitos halo e horn. Vejamos exemplos que irão representar perdas significativas de rentabilidade e, portanto, de formação de patrimônio ao longo do tempo.

1- Caderneta de poupança é a aplicação mais segura – A segurança da caderneta é dada pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), porém até R$250.000,00, por CPF e conglomerado financeiro assim como as LCI, LCA, CDB e LC que podem render até o dobro da caderneta com os mesmos benefícios.

2- Planos de previdência não são penhoráveis judicialmente – Ledo engano. São penhoráveis sim e, por conta desta ilusão, paga-se taxas de administração e carregamento que corroem a rentabilidade ao longo do tempo.
3- Bancos grandes são sólidos e pequenos não – Aqui o tamanho da instituição determina o efeito halo (positivo) e horn (negativo). Tamanho não tem relação alguma com segurança, mas sim alavancagem e critérios de análise do crédito concedido. Quanto maior o risco do crédito, maior serão os juros cobrados de quem toma emprestado e menor será a taxa de remuneração oferecida aos investidores da instituição. Certamente será necessário ter reservas para devedores duvidosos.
Julgar sem conhecer pode ser apenas uma programação mental, estabelecida por anos de propaganda veiculada pelas grandes marcas ou somente uma manifestação de preconceito. O fato é que em ambos os casos seu bolso irá sofrer.


*O professor Mauro Calil é  especialista em investimentos no
Banco Ourinvest.

É também  palestrante e autor dos livros “Receita do bolo” e “Separe uma verba para ser feliz” e proprietário da Academia do Dinheiro, instituição especializada em cursos de educação financeira e finanças. Possui mestrado pela USP e Pós Graduação em Marketing pela ESPM e certificado pela ANBIMA como CEA.