sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O crédito realmente inteligente - Por Mauro Calil


A todo o momento comerciais nos diversos meios de comunicação estimulam a população brasileira a realizar seus sonhos de consumo de uma maneira rápida e fácil, a tomada de crédito. Até mesmo governantes já estimularam este comportamento com a justificativa de manter a economia supostamente pujante. Parece que o resultado durou pouco tempo.
Em se tratando dos juros cobrados no Brasil nas operações de empréstimo à pessoa física, o crédito realmente inteligente via de regra é aquele que não é tomado, raras são as exceções e quase nenhuma está atrelada ao consumo.

Lembro de uma exceção ocorrida com uma de nossas alunas, ela entrou pela primeira vez na sala de aula da Academia do Dinheiro já aos 50 anos de idade, se queixando que sua gerente lhe recomendava títulos de capitalização como sendo o melhor investimento para ela e, ao mesmo tempo, negociava o aumento do limite de seu cheque especial. Cá entre nós, uma maldade. E apesar disto, até aqui nada de exceção, afinal tomava uma linha de crédito caro para girar seu pequeno negócio enquanto “poupava” para tentar sair do aluguel, este sim seu grande sonho.
Logo no primeiro curso de nossa grade, Método FAST de Enriquecimento, baseado no livro “Separe uma verba para ser feliz”, ela viu a tremenda bobagem que estava fazendo. Visitou de forma inteligente sua vida financeira, passou a ter planos para si e para sua empresa e começou a trilhar o caminho do enriquecimento.
Quatro anos mais tarde, no início de 2013, ela nos presenteou com seu depoimento em sala de aula. Zerara as dívidas em menos de 6 meses, acumulou em investimentos turbinados de Renda Fixa e Variável, o suficiente para dar 40% de entrada na casa própria, sendo que as parcelas do financiamento ficaram 30% mais baratas que o aluguel que já estava acostumada a pagar e, devidamente orçado.
Para tal façanha aceitou, inclusive, perder um pouco do que havia colocado nos títulos de capitalização que sequer repunham a inflação do período, e somente davam uma remota chance de contemplação em sorteio, para ter a certeza de rendimentos maiores no tesouro direto que chegaram nos anos de 2011 e 2012.Hoje já migrou para títulos privados de Renda Fixa.
Esta é uma boa exceção, se livrar de um aluguel, que é uma dívida que nada constrói ao inquilino pessoa física, e assumir um financiamento de casa própria cuja parcela é menor que o antigo aluguel.
Dito isso, não saia tomando empréstimos ou parcelando a vida para comprar TVs, carros, viagens, etc. Os juros pagos não deixarão a imagem de sua TV melhor ou farão com que o sinal de seu celular seja infalível. Da mesma forma os juros pagos não deixarão sua viagem mais divertida ou romântica, pelo contrário, podem estragar tudo assim que a conta chegar.

Lembre-se: Juro é algo bom de receber, não de pagar.
Mauro Calil é palestrante, educador financeiro, autor dos livros “Separe uma verba para ser feliz” e “A receita do bolo".

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

A explicação matemática para o aumento da inadimplência - Por Mauro Calil


Há algum tempo reencontrei um amigo de infância. Um daqueles com quem jogava bola, ia a shows na adolescência, dormíamos um na casa do outro de vez em quando, nos metíamos nas mais diversas e inocentes encrencas e, também, saíamos juntos delas, enfim amigão mesmo.

Ele me viu na TV, buscou meu nome na internet e me ligou convidando-me a ir visitá-lo em sua casa recém construída. De pronto aceitei o convite.
Obviamente fui muito bem recebido por um casal super orgulhoso de suas conquistas materiais, seu contentamento somente era menor que a felicidade de terem gerado dois filhos. Mostraram cada cômodo da casa, a área de churrasqueira, piscina, lareira, a cozinha com eletrodomésticos novinhos e todas as quatro TVs de tela plana, uma para cada pessoa dentro da casa nova.

Enquanto as crianças brincavam e nossas mulheres se conheciam (àquela época eu era casado), meu amigo fazia o churrasco e relembrávamos as mesmas histórias e piadas de 30 anos atrás (ou mais). Conversa vem, conversa vai perguntei a ele por que ainda não havia colocado vidros nas janelas? Afinal bastava abrir as venezianas para que o vento soprasse muito. Com venezianas fechadas soprava menos.

A resposta foi simples: “Tá louco Mauro? Você viu a quantidade de vidros que tenho que colocar nesta casa? O vidraceiro divide em no máximo três vezes. Assim que terminar de pagar algumas contas, vou juntar para isso.”

Ah OK. Pensei e respondi eu. Afinal trata-se de meu amigo e do dinheiro dele. Mas a atitude dele me fez pensar novamente em prioridades e premissas. Meu raciocínio é simples, para quem possui 4 TVs super modernas, para quem tem uma piscina para manter, acredito que possa comprar vidros para as janelas, afinal seriam mais importantes. Ao menos para mim seriam.

As conquistas daquela família, e de muitas outras, foram galgadas no crediário. Na recém formada cultura financeira do brasileiro encapsulada na frase “cabe no bolso”. Tal cultura é galgada em premissas temporais e por vezes etéreas como, ter um bom emprego e empregabilidade, ou se for mandado embora conseguir uma recolocação rápida. Ou ainda, o Brasil está crescendo e a inflação sobre controle. O fato é que tudo isso está passando, está se deteriorando, e as dívidas dos indivíduos e famílias continuarão.
Já quis estar errado sobre isto mas os números crescentes da inadimplência no Brasil mostram que isto está correto. A inflação em seu voo suave, pressiona orçamentos onde a prestação de quatro televisores que seria plenamente aceitável, não mais será em pouco tempo. Vejamos em números.

Imagine uma família com Receita Familiar total líquida de R$5.000,00, despesas com parcelas de tudo que é pago via financiamento: R$1.750,00 (35%), demais despesas da família R$3.000,00. Portanto sobram R$250,00.
Mesmo que todo o financiamento seja feito em parcelas fixas, as demais despesas como água, luz, telefone, alimentação, escolas, transporte, etc. sofrerão a ação da inflação, que ao alcançar 10%, transformarão os gastos de R$3.000,00 em R$3.300,00, portanto fazendo faltar R$50,00 no orçamento desta família.


Para todos que deram vazão aos seus sonhos de consumo usando o caminho do crédito, incluindo meu amado amigo que permitiu usar seu exemplo neste artigo, sugiro que verifiquem a duração de suas prestações. Tomara que terminem antes da inflação alcançar de forma devastadora as demais despesas e o orçamento familiar.
Rever seu orçamento e investir melhor, com mais rentabilidade mas, a mesma segurança dos grandes bancos, são atitudes que podem eliminar o aperto de qualquer orçamento.

Mauro Calil é palestrante, educador financeiro, autor dos livros “Separe uma verba para ser feliz” e “A receita do bolo".


quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Renda Fixa também exige diversificação



No final de 2008 e início de 2009 os investidores, enfim, enxergaram uma alternativa rentável e segura para investir na Bolsa, os Fundos Imobiliários. Eu fui um dos propagadores deste tipo de investimento que, logo depois, se popularizou. Os investidores que nos seguem e, porventura, investiram no início desta propagação, gozam até hoje dos frutos colhidos, mesmo com a queda do valor das cotas. Os rendimentos mensais ainda são muito vantajosos.
Agora quero tratar de outro assunto, a diversificação em Renda Fixa, que também é necessária. Quem já saiu da cadernetinha, quem já deixou de ser “poupanceiro”, conforme venho sugerindo há tempos, já colhe ótimos frutos em LCI, LCA e outros títulos. Porém, como tenho muitos seguidores e, muitos deles também são formadores de opinião, este investimento já se popularizou, e o resultado é que já começamos a enfrentar a falta de lastro de qualidade, ou seja, faltam títulos que nos rendam ao menos 94% do CDI, quanto menos 98% ou 100%.
A saída para isso é diversificar. E neste sentido, lembro de um questionamento que sempre recebo:

- Professor como que os bancos cobram 4, 5 ou 7% ao mês em seus empréstimos e nos remuneram em menos de 1% nas aplicações?

Obviamente que a diferença é lucro bruto da instituição. Ocorre que algumas instituições repassam grande parte deste lucro de forma segura, via Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) com ratings de investment grade e rentabilidades superiores a 100% do CDI já descontado IR, come cotas e taxa de administração. Mais uma vez, como venho alertando recentemente, isso não é ofertado a qualquer um.
Para esclarecer, FIDCs investem seus recursos em carteiras de recebíveis (empréstimos) de operações realizadas em instituições financeiras, indústria, arrendamento mercantil, hipotecas, prestação de serviços e outros títulos admitidos pela CVM. Os FIDCs foram criados com objetivo de dar liquidez ao mercado de crédito, reduzindo o risco e ampliando a oferta de recursos.

O FIDC não é o único caminho para diversificação, mas caso deseje este investimento, a escolha de um bom FIDC envolve a verificação de seu rating, pois este te dará uma ideia da qualidade dos recebíveis e certeza do fluxo, e logo em seguida dê uma olhada na quantidade de cotas subordinadas versus a quantidade de cotas seniores. Rapidamente as cotas subordinadas NÃO são comercializadas e, ficam com os emissores do fundo, sendo as últimas a receber o fluxo dos pagamentos caso ocorram problemas no recebimento.
Se um emissor retém 10% de cotas subordinadas ele “acredita menos” nos fluxos que outro que retém 20%, por exemplo. Saliento que este é somente um exemplo e a expressão “acredita menos” fica entre aspas. Na prática, um FIDC com 20% de cotas subordinadas poderia ter uma quebra de até 20% nos recebimentos que o investidor não seria prejudicado. Entendeu a sutileza?

Já o grau de investimento das agências de rating começa em Baa3 para Moody’s, e BBB- para S&P e Fitch.

De posse das informações, que tal diversificar e turbinar ainda mais seus investimentos em Renda Fixa, tornando mais segura a travessia para os difíceis tempos que virão?

*Mauro Calil é palestrante, educador financeiro, autor dos livros “Separe uma verba para ser feliz” e “A receita do bolo".