quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Adivinha quem vai pagar o pato? * Por Rogério Nakata




Quando sou convidado como planejador financeiro certificado para auxiliar uma família com problemas de endividamento e em alguns casos de superendividamento o primeiro passo para regularizar a situação é colocarmos todas as receitas e despesas na ponta do lápis de forma que consigamos enxergar a situação atual e com isso propormos meios de redução, enxugamentos e corte nos gastos, porém não é bem isso que vemos atualmente na administração pública. Depois de revisarem para ainda mais para baixo o superávit primário que é a economia que o governo faz para pagar os juros da dívida pública e depois da tentativa de emplacar a enfadonha CPMF (Contribuição “Provisória” Sobre Movimentação Financeira) que de provisória na época não tinha nada (1997 a 2007) e que cujo destino, a Saúde pouco viu e contribuiu para diminuir as malesas pelas quais o Sistema Único de Saúde passou e continua passando estamos novamente diante de mais aumento de impostos e anote, eles virão, fazendo com que ultrapassemos com folga os 155 dias do ano que precisamos trabalhar para pagá-los. Enquanto as famílias tentam de maneira desesperada reduzir seus próprios custos pela dor e não pelo amor (duas formas de o ser humano aprender qualquer coisa nessa vida) fazendo ajustes em seu Orçamento Pessoal e Familiar o governo deixa de fazer seu dever de casa e anuncia um déficit teórico de R$30,5 bilhões nas contas para o próximo ano e consequentemente jogando a bola para o Congresso resolver a situação.
  Fazendo um paralelo com uma família endividada se o cinto aperta gastos com TV por assinatura, telefonia fixa e celular, alimentação fora de casa, presente dado aos outros e viagens a passeio são reduzidos e até cortados do orçamento doméstico. Em alguns casos, o corte na carne é tão profundo que muitas famílias deixam de vez de comer fora, transferem seus filhos de uma escola particular para outra ou até optam por transferi-los para o ensino público, que cai entre nós, não é muito o modelo de Pátria Educadora que os pais esperam para a formação do futuro da nação. Pessoas estão vendendo suas casas e demais bens para pagarem dívidas, enquanto isso, continuamos com 39 ministérios que engrossam ainda mais o déficit nas contas públicas de cerca de R$2,8 trilhões em gastos em 2015 sem trazer resultados efetivos para a população que aguarda ansiosamente que os recursos pagos em impostos sejam melhor aplicados e que reflitam em áreas tão sensíveis como Educação, Saúde e Segurança. 
Segundo o site www.contasabertas.com.br somente a Presidência da República (PR) possui quase 7 mil cargos, funções de confiança e gratificações que representa 40% dos 18 mil funcionários que compõem a Pasta. Os cargos de confiança que fazem parte da própria administração da Presidência correspondem a 3.770 cargos sendo que os demais 1.653 funcionários de confiança estão locados na AGU (Advocacia Geral da União) que possui 9.100 servidores representando quase que 50% do contingente total da PR. A Associação Contas Abertas ainda demonstra que a intenção por trás de tantos cargos é de dar maior visibilidade e prestígio a algumas áreas criando atratividade política fazendo com que a Presidência da República e os seus gastos crescessem significativamente nos últimos anos. Quer mais? Somente com diárias pagas a funcionários públicos pela União, somando os três Poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário representam gastos na ordem de mais de meio bilhão de reais ou mais precisamente R$553 milhões que já foram reduzidos, mas que ainda saltam aos olhos do contribuinte brasileiro. 
Uma comparação interessante feita pela mesma Associação mostra também que com essa dinheirama toda gasta com servidores em viagens a trabalho seria possível viver 216 anos na suíte mais luxuosa e cara, na cobertura do sexto andar do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro chamada de “penthouse” com 300 metros quadrados privativos cuja diária é de aproximadamente 7 mil reais por dia incluindo “mimos” como serviços de mordomo.
Bem, primeiramente todos devemos ter ciência de que sem impostos nenhum país sobrevive pois mesmo com a nossa capacidade de imprimir dinheiro para diminuir o nosso déficit isso seria catastrófico pois aumentaria ainda mais a inflação que já está quase a 10% esse ano e seria impossível dar o mínimo de infraestrutura à uma nação sem os recolhimentos dos mesmos. O problema é que a gestão dos recursos e o desvio de verbas destroem a esperança das famílias em viverem num país mais justo e menos desigual pois tudo aquilo que poderia ser “gratuito” como boas escolas públicas, boa saúde e segurança de qualidade precisam ser desembolsados novamente pela população que busca na iniciativa privada um socorro por algo que pela Constituição deveria ser fornecida pelo Estado.
Portanto, é difícil dizer para uma pessoa economizar se você não economiza, é difícil dizer para a população reduzir o consumo de água se todos os dias aparecem mais uma Lava Jato da vida, ou seja, é preciso assumir os erros e não possíveis erros para que possamos como num atendimento à uma família ou a um casal deixar um pouco as emoções de lado e trabalhar as questões racionais e orçamentárias que farão diferença no seu futuro e no de sua família. Não é discutirmos quem está certo ou quem está errado, mas o que é certo e o que é errado é o que importa, principalmente num momento de crise ainda mais quando ela é financeira.
No final quem vai pagar o pato? Essa expressão tem a ver com a uma brincadeira de origem portuguesa onde um pato era amarrado a uma árvore e um participante, a cavalo, deveria cortar as cordas que prendiam o animal com apenas um único golpe de machado e quem perdia pagava o pato e oferecia ao vencedor, ou seja, acredito que seja mais ou menos esse o sentimento de milhares de brasileiros que se sentem como tolos por pagarem por aquilo que não devem ou pior por aquilo que não recebem de volta. 
Rogério Nakata é Planejador Financeiro Certificado pelo IBCF - Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros, Embaixador CFP® para o Vale do Paraíba, Agente Autônomo de Investimentos pela CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e Palestrante sobre os temas Educação Financeira e Planejamento Financeiro de grandes organizações (www.economiacomportamental.com.br)

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